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O Consertor


Era uma vez eu. Na verdade eu era muitas vezes e não uma vez só. 
Mas as histórias começam com era uma vez. 
 
Essa era a primeira regra que me lembro (fora não rabiscar o sofá e as paredes, e dar descarga). E escovar os dentes e mastigar a comida.
Mas nessa uma vez eu era bem pequeno ainda, do tipo bem pequeno mesmo, que não alcança descargas e se alcançar alguém diz que não pode e que vai cair na privada. 
Aquele período difícil da vida, que acham que só quem alcança enxergar espelho sabe das coisas.
 
Nessa época, mais ou menos, eu era um brincador. Já fazia tempo.
Mas quando me perguntavam o que eu fazia, eu sempre respondia com outra pergunta ”agora ou sempre?”
Se fosse Agora, depende, as vezes eu comia, as vezes eu chorava, as vezes eu via desenhos, as vezes eu desenhava. Mas se era Sempre, eu respondia que era um brincador.

Agora ou sempre?

Um brincador é alguém que brinca sempre, mas sempre não é toda hora, porque as vezes um brincador faz outras coisas.

Demorou pra eu entender isso bem certo. Porque meu pai tinha me explicado que sempre era muito tempo, tempo demais, mas também era a maior parte do tempo. Eu achava isso coisa de guardar no armário que eu ia só aprender mais tarde, mas aprendi certo quando pensei que eu gostava do meu pai sempre e tanto faz qual sempre.
 
Então eu sempre era um brincador mesmo se às vezes eu era chorador, banhador, dormidor, enxergador. Eu era brincador até quando não brincava de nada, aprendi.
Até que um dia na escola uma tia que não podia chamar de tia me falou: brincador não existe menino.
 
Voltei muito preocuposo para casa um pouco chorante mas só e fui direto ver se meus colativos existiam. 

Meus colativos

Eu tenho uma coleção de colativos no armário. Se brincador não existe, não existe colativo
de brincador, achei. Mas estavam lá. 
E os mólibes também.  

Mólibes se você não sabe são pendurativos
de teto, um negócio que serve para olhar, assim como desenhos e olhos e minha mãe. 
Então, se os colativos do brincador são,
e os mólibes do brincador são,
e mãe do brincador é, então eu devo ser mesmo brincador, pensei.
 
Foi quando no dia outro, na perua, eu disse
para o tio que podia chamar de tio, tio, porque mesmo não existe brincador se eu sou brincador desde quando eu era bem pequeno até hoje que eu já cresci?

E o tio falou: como não existe brincador?
Tá louco. Olha você aí menino.
 

Mólibes são pendurativos de teto

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O Consertor

O Consertor é um livro infanto-senil.

Serve a todo ser humano que pensa e cria, independente da idade, desde que tenha se mantido com bom humor apesar do caos.

Aos que não optaram por não pensar, serve como peso para papéis, lenha, e talvez, e isso é incerto, como ficção.
Ficção é um tipo diferente de mentira, que inventa histórias enquanto fala a verdade, ao invés daquele outro tipo de lorota, a atividade de mentir descaradamente para torcer a realidade. Esse outro negócio que cada vez mais gente acha que todos lêem, menos eles próprios.

Aos que perderam bom humor, sinto muito. Note que o diabo, pelo menos, é corno.

Todos os textos, imagens, desenhos, e a programação do site, assim como imagens e projeto gráfico de O Consertor foram feitos mim_ME BEIJEM.
Meu trabalho diário é sempre mais visual e de tecnologia do que de ficção, de modo que nas imagens e interfaces, que não nos interessam tanto aqui, possivelmente não existirá grande ofensa, calamidade ou algo tão sofrível que atrapalhe seu tempo ou minha reputação.

Já nos contos, estaremos todos, vocês e eu, correndo risco. Os textos podem, eventualmente, ofender ou desagradar, grupos, indivíduos, instituições. Não é minha intenção, mas sabemos que o subsolo está cheio de boas intenções, minhocas e toupeiras.
Oremos.

Se o começo de O Conserto agradar, e você quiser ler mais, por favor entre em contato. 
Caso desagrade, vale ler A Ovelha Negra e outras fábulas, de Augusto Monterroso.

Quer terminar de de ler O Consertor?
Só pedir.

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