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Talvez eu tenha que tirar algumas páginas. Você tem algum tipo de reserva quanto a esse tipo de intervenção?
Nenhuma. Eu tiraria várias.
É o trabalho do editor.
Claro; o meu também. Não chega a ser auto crítica, talvez um mínimo de higiene.
Quem sabe eu faça um corte maior do que você espera.
Eu na verdade gostaria de um corte razoável.
Não conheci escritores com essa boa vontade.
Nenhuma boa vontade; não sou escritor. Eu escrevo. Escritores dão entrevistas, autógrafos, aparecem na tv. Alguém tem que só escrever.
O livro pode ficar menor do que você gostaria.
Eu gostaria que ficasse minúsculo. Provavelmente fique melhor, ou ainda sofrível, mas breve.
Gosto de ironia.
Devo tirar muitas páginas por minha conta. Talvez eu tire páginas diferentes das que você tiraria.
Talvez. Como acertaríamos isso?
Vamos manter a 419, a qualquer preço. Fora isso nada importa.
Por que? É genial?
Não. Mas quero ter a ilusão de controle. E talvez o livro fique mesmo brilhante.
Com o trabalho de edição?
Sim. Veja, se tirarmos as mesmas páginas, possivelmente não. Mas se discordarmos e seguirmos tirando páginas até que reste a capa, o índice e a 419, e não podemos jamais perder essa oportunidade de manter a 419, talvez aí sim a coisa fique genial.
Não confio no que você diz.
Nem eu. Confio menos ainda no que escrevo.
Isso é comum entre autores. Eu confio no que você escreve.
E ainda assim, sem ler, já decidiu tirar páginas.
Aceita um café?
Se puder discutir a qualidade depois de tomar, sempre.
Sinceramente, preciso de ajuda profissional.
Qualquer ajuda. Desde que sejam profissionais. 



Acredito que devemos conversar. Remotamente. Estamos saindo de uma pandemia, e não quero mais culpas do que já tenho.

Escrevi alguns livros, muitas crônicas. Tenho orgulho, talvez indevido mas ainda orgulho, do que continuo achando que presta.
Escrevi também, e produzi, muitas coisas das quais não tenho orgulho, de comerciais a cartas de despedida, de e-mails desaforados a SMSs com erros de português, ou sem erros, com o corretor ligado, mas com coisas que eu não escreveria se tivesse pensado. Enviei mensagens para grupos de WhatsApp quando na verdade foram feitas para uma pessoa específica. Talvez ato falho, quem sabe incompetência, certamente estupidez.
Prêmios tenho, alguns poucos, mas como designer, diretor de arte, e com um trabalho que começa a ter visibilidade semi ridícula como artista. Tenho muita coisa além disso, vale ler meu CV porque a coisa é longa e gosto de me gabar por nada. Minha família até hoje não sabe exatamente o que faço. Como sei que são ocupados, resumi. Vocês, imagino, são ocupados, não minha família. Segue o CV no final dessa apresentação. Quero confetes.

Como escritor não tenho prêmios. Não tenho agentes, nem editores. Nem contratos. Nem certezas. Poderia conseguir tudo isso antes de nossa conversa, mas levaria algum tempo, e tenho pressa. Certamente tenho pressa. Estamos no dia 980 de março, e março, esse ano, que é o mesmo ano que o ano anterior, parece que seguirá até o final do próximo ano. Não vou esperar mais.
Tenho textos. Bons. Melhores. Alguns ótimos. Alguns que eu não acho grande coisa mas vocês acharão ótimos. Ainda que neguem.

Escrevi uma história infantil que acho que será um sucesso mundial, caso alguém consiga traduzir. Senão será um sucesso em dois ou três bairros de SP, ainda assim, um sucesso. Não pesquisaremos as opiniões dos outros bairros, e se pesquisarmos, criticarei publicamente a metodologia.
Modéstia é algo útil para fracos e jornalistas.
A história, O CONSERTOR, segue para sua apreciação, junto com outros trechos do meu trabalho.
Procuro uma conversa, sobre como podemos colaborar.


Minha intenção é dominar Brasil, Argentina/Uruguai, Nova York, México, Alasca, Alemanha, Moscou, Sudão, Madagascar, Aral, Omsk, Vladivostok, toda a Oceania, conquistar 22 territórios e destruir o exército vermelho ou convencê-los a usar preto.
Além disso, quero encontrar um(@) agente que me ache genial sem questionar seu próprio critério e um(@) editor(@) que simplesmente se divirta em correr os mesmos riscos que eu,
ou que no mínimo me permita desrespeitar prazos em paz.

Quero mais muitas coisas, já nasci com ambições muito maiores e mais frequentes que minhas ocasionais competências,
mas sinto, não lhe conheço, sou desconfiado, vamos com calma, não vou contar tudo com facilidade.

Maior abraço (agora que já estamos vacinados);
Desejo, para você, do melhor que tivermos disponível.

Mas me receba. Dominaremos o mundo.

Maurício Trentin

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Instruções

Instruções para escrever intruções.
1_Basicamente você não deve ser especialista em algo, mas na descrição de qualquer algo.
2_Estude como esquecer do que sabe para além do mínimo necessário para instruções breves.
3_Lembre-se, instruções complicadas ou não funcionam ou mudam de nome para cursos Stricto Sensu, e ninguém quer isso com um avião caindo ou tentando colocar um preservativo.
4_Instruções devem ser breves, e claras, e sempre que possível, em tópicos numerados.
5_Use poucos números. Se os 10 mandamentos fossem 5, provavelmente teriam o dobro de seguidores. 

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Xeroxes

PROCURA_SE gêmeos para trabalhar em loja de xerox, mais conhecida como copiadora. A máquina que copia na verdade é de outra marca, não me lembro exatamente, por isso nenhum dos gêmeos tiraria de fato qualquer tipo de xerox, fariam sim cópias simples, nunca autenticadas, cópias serão sempre cópias e todos sabem que a única coisa autêntica é o original, isso quando o óbvio não acontece e o original é um falsário absoluto. Exige-se experiência, não em copiadoras, coisa ridícula que qualquer idiota aprende em um treinamento semi-intensivo de 12 segundos, mas em ser irmão gêmeo, por isso não aceitaremos crianças que usem fraldas, mesmo que lindas e cheirando a talco. Benefícios são vários, mas apenas para um dos gêmeos, o outro que use a mesma roupa e volte no retorno da consulta dizendo que não funcionou mas que por boa vontade gostaria de tentar de novo. O médico, entre envergonhado e satisfeito, vai adorar espalhar garranchos surreais sem significado algum para que o farmacêutico ligue mais tarde confirmando se realmente o paciente deve comprar remédio para calos e fazer uso interno, quem sabe essa não será a solução final para a barriga dos muito magros um pouco corcundas. O salário, como todos sabem, é a combinar, seja lá o que isso signifique em termos de remédio para calo. Combinamos assim, pagaremos com uma nota de um valor qualquer, não enorme mas também não do tamanho dos irmãos que cheiram a talco, que poderá ser copiada quantas vezes for necessário na máquina colorida, o que é obviamente prático, já que todos sabem alguns meses custam mais que outros. Esse anúncio segue repetido, logo abaixo, no jornal. Favor indicar a leitura para seu irmão gêmeo. 

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Pontos

Hoje além da dor ela respirou com seu hálito. Perfeito perto da minha boca enquanto apertava meu pescoço e quanto mais dor. Eu sentia mais suave a voz dizia. Que precisava relaxar e ela sabe. E escolhe os pontos. Certos desertos, entroncamentos das nhacas da minha alma que. Doem como morte em fascículos mas ela diz que é drama e no fundo. Sente pena mas. Continua e me diz que tem saudade e que agora. Vai doer um pouco mais por culpa. De um pequeno ponto, chatinho segundo ela que. Rouca me machuca. Mas faz carinho com a mão quente e que sabe. Motivos que só talvez minha clavícula possa explicar, não. Eu que sou só dor e talvez aceito em troca de sentir a alma dela roçando nas. Minhas costas que doem como se pregassem minhas faltas e vergonhas em um ponto. Pequeno mas que dói como se. Todo, a mão escorrega e eu sei que ela faria. Mais se pudesse, por enquanto o que tenho é o calor. Do cobertor elétrico e a certeza que teria a. Mão machucando todo dia se nós em outro tempo e em outro lugar. Pudéssemos mas não por hoje que tudo é. Choque.

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Novas instruções

Este livro é para ser lido como qualquer outro, nenhuma novidade, siga as regras que você supostamente aprendeu na escola. Abra na página cujo número equivale a sua idade, e siga daí para a frente, até encontrar qualquer indicação numérica. Todos sabem disso, claro. Duas camisas (2), quatro casas (4), seis notas de algum dinheiro (6), 34 seios (34) ou 176 centímetros (176). Mude assim que ler a indicação para a página correspondente, aguarde a próxima (convém tentar). Deixe para o fim páginas não lidas e em nenhuma hipótese leia a página 145. Isso não é uma indicação numérica, é uma ordem.

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Ordem

De maneira que qualquer frase estaria em uma ordem específica, ordem que fica em algum lugar entre a alfabética do dicionário e o caos completo. Escrever, ou escrever bem, seja lá o que isso signifique de fato, me parece que é deixar a coisa longe o bastante do caos completo e ao mesmo tempo longe o bastante da ordem alfabética, estupidez organizada que diz tudo enquanto não significa nada.
Não bem no meio, mas em algum lugar que faça sentido e ao mesmo tempo refaça os sentidos ou desfaça o que supostamente deveria ser sentido. Sabendo que a coisa é de saída assim simples, comprei dois dicionários. Um deixei em uma esquina, inteiro, e na outra, piquei a palavreira toda, e não fosse o vento tudo estaria lá, na mais perfeita mixórdia, caos completo, pesadelo amontoado dos que fazem palavras cruzadas. Fui então espalhando os textos (os meus), para que os mais ordinários e corriqueiros, sempre organizados, ficassem perto da esquina do dicionário, e os mais inspirados, e depois os mais loucos, e daí para diante os ilegíveis não por conta da letra mas por conta da sintaxe, perto da pilha do dicionário despedaçado. Descobri que todos os meus textos bons acabavam em frente a uma casa específica, de concreto, manchada pela umidade e com uma árvore na frente. Parecia abandonada não fosse um balanço que mexia, sozinho, talvez o mesmo vento que levou parte do dicionário despedaçado embora. Pregados, por todo o quarteirão nos muros, eu ia de louco a idiota a gênio e de volta a idiota, mas um idiota organizado, como se nada fizesse sentido mas pelo menos estivesse em uma ordem qualquer que desse ao infeliz a ilusão de um controle que não tinha. O infeliz no caso era eu, mas não no muro da casa com o balanço. Lá eu provavelmente era até mais alto. Achei que fazia sentido, ainda que um tipo de sentido que não se pode entender de cara, pensei em continuar a coisa; comprar um terceiro dicionário, que picotado e refeito com durex teria as palavras organizadas por tamanho, algo para ocupar a próxima quadra, mas não.
Fui até a casa onde o muro seguia simpático com o meu trabalho, e escrevi em uma última folha colada: eu, curador do meu próprio trabalho literário, considero geniais os textos colados no muro desta casa, não porque são meus, mas porque estão na distância exata e perfeita entre a esquina do caos e a da ordem alfabética. Reitero que todos os outros textos colados nesse quarteirão não são de minha autoria, e sim de meus detratores, desgraçados infelizes invejosos de tamanha noção para com o uso da trena entre esquinas distintas. Esse muro passa então a ser o repositório de toda minha obra, enquanto o resto desse quarteirão deve ser também mantido, como prova da inveja humana e do sofrimento daqueles que não têm talento quando deparam com o brilhantismo. E assim, mentindo sem culpa nem vergonha, mas com alguma pressa, virei a esquina. 

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Infinitários

Daí que meteorologista estudar chuva e não meteoro é dos mistérios para sempre encravados na área de mistérios encravados; seja onde isso for, tentei argumentar para o ridículo apresentador de TV que se amava sobre a injustiça de se separar os atentos ao céu em três tipos; meteorologistas, fundamentalistas religiosos e nefelibatas. Nefelibatas esses, os que babam ao olhar as nuvens de tanto encanto e seguem sem respeito inclusive dos fundamentalistas, o que é uma barbaridade por si só. Talvez merecessem o respeito dos meteorologistas, que estudam nuvens e chuvas e não se oporiam a estudar seres humanos que babam distraídos quando olham para o céu, já que os aspectos úmidos e gasosos permaneceriam idênticos ao da meteorologia pura, a não ser que o nefelibata em questão tenha comido algo estranho, caso em que ficará olhando as nuvens solitariamente. O apresentador ridículo mas segundo seus funcionários gênio disse que havia me esquecido dos astrônomos, e concordei sendo simpático mas no fundo esqueci lhufas, astrônomo nenhum liga para o céu, ligam para o espaço, coisa muito diferente e bem pra lá de anjos ou temporais. Abaixei a cabeça deixando o ridículo falar bem de si mesmo por mais 6 minutos e retomamos a conversa. Disse ao infeliz que era injustiça total com a classe mais importante que costuma olhar o céu, os infinitários. Infinitários, para você que eventualmente ignora o fato de que nem todo mundo sonha em ser trainee, são funcionários do infinito, trabalham para o todo todos os dias, e seguem caçando sonhos e os rebocando pra terra ainda que se debatendo e reclamando, digo os sonhos e não os inifintários que não se debatem por nada a não ser cócegas com penas o que vamos concordar, já seria maldade o bastante e justificaria com folga o fato de se debaterem. Gente responsável pelos absurdos maravilhosos que ainda existem na Terra fora os que foram providenciados por ela própria, infinitários seguem desorganizados, desindicalizados, sem piso salarial, ou no caso deles talvez teto salarial, não baixo, mas de um altura próxima a de seus interesses. Esse é o resumo de minha plataforma, e prometo que não farei absolutamente nada para qualquer ridículo que siga sendo trainee, ou que seja a partir daí promovido até a presidência, mas que farei tudo, e pouco mais, pelos infinitários. E que não só pela moda da defesa das minorias defenderia os nefelibatas, por séculos tratados como otários ou loucos, dois tipos que de maneira alguma são minoria e jamais deveriam ser confundidos com nefelibatas para começo de conversa. Nefelibatas são, de todos os sonâmbulos, talvez os únicos que estejam ali no lusco fusco, no limite entre o sonho e o café da manhã, naquele estado de torpor atento que os gatos passam a maior parte de sua vida. Se tenho esperança de que mais infinitários surjam, só aparecerão ali, enxugando finalmente a baba e fazendo algo com o que viram enquanto olhavam para o céu, desde que não chova e que não sofram de torcicolo.

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